RCGI lança mapas interativos com o potencial de geração de energia do biogás em SP

 

Dividido em três grandes fontes para obtenção do gás – resíduos urbanos, resíduos de criação animal e setor sucroalcooleiro – o conjunto de mapas é uma ferramenta valiosa para o planejamento energético local.

O Fapesp-Shell-Research Center for Gas Innovation (RCGI) lançou um conjunto inédito de mapas interativos, disponível na internet, com o tema Biogás, Biometano e Potência Elétrica em São Paulo. Os mapas interativos estimam o potencial de produção de biogás e biometano no Estado, e o potencial elétrico a partir do biogás, por município, de acordo com três grandes fontes de obtenção do gás: resíduos de criação animal, resíduos urbanos e setor sucroalcooleiro.

Os dados mostram que o potencial de energia elétrica gerada anualmente a partir de biogás em São Paulo é de 36.197 GWh, o que corresponde a 93% do consumo residencial no estado. O potencial anual de biometano poderia exceder em 3,87 bilhões de Nm3 o volume anual de gás natural comercializado ou substituir 72% do diesel comercializado.

 As responsáveis pelos mapas são a professora Suani Coelho, coordenadora do Projeto 27 do RCGI, e sua equipe, composta por Drª Marilin Mariano dos Santos e Drª Vanessa Pecora Garcilasso, com a colaboração do mestrando Diego Bonfim de Souza.

Para elaborá-los, a equipe utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), do Datagro, do Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), da Sabesp e da Gasbrasiliano. O grupo gerou as informações a partir dessas fontes, e a empresa EcoGeo Geoprocessamento e Meio Ambiente, definida mediante processo de licitação, elaborou os mapas.

O conjunto de mapas, que está em ambiente ArcGIS, é de manipulação fácil e intuitiva, e pode ser acessado em português ou em inglês. Sobre o mapa do Estado de São Paulo, o usuário pode inserir as camadas com a informação que desejar. As camadas não estão apenas relacionadas ao potencial de biogás e biometano, mas também apresentam, por exemplo, os gasodutos (para gás natural) do Estado, as linhas de transmissão de energia elétrica, as unidades de conservação, os pontos de entrega de gás existentes, entre outras informações importantes para o planejamento energético dos municípios.

O potencial total das três grandes fontes de obtenção do gás se desdobra em vários outros mapas mais específicos. Por exemplo: o grupo “resíduos de criação animal” tem mapas específicos para suinocultura, bovinocultura e avicultura. O grupo “resíduos urbanos” também tem mapas distintos para o potencial dos aterros sanitários e o das estações de tratamento de esgoto. E o setor sucroalcooleiro traz um mapa para a totalidade dos resíduos (vinhaça, torta de filtro e palha de cana), e um somente para a vinhaça, que representa grande parte do potencial de obtenção de biogás, biometano e de geração de energia elétrica em São Paulo.

O setor sucroalcooleiro é o que apresenta o maior potencial de aproveitamento de biogás e demais energéticos, produzidos a partir destes resíduos. Considerando, por exemplo, os dez maiores potenciais nos municípios do estado, verifica-se um potencial de biogás de mais de 3 bilhões Nm3 na safra, correspondendo a 22 % do potencial do setor sucroalcooleiro no estado e, se transformado em biometano, corresponde a 30% do consumo de gás natural no estado. 

Por sua vez, se todos os resíduos fossem aproveitados nas usinas do estado, o potencial de geração de eletricidade com biogás atingiria quase 32.000 GWh, o que significa cerca de 80% do consumo de energia no setor residencial de São Paulo.

A figura a seguir ilustra os dados obtidos, onde se verifica o enorme potencial do setor sucroalcooleiro.

 

Suani Coelho, professora do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP) e coordenadora do GBIO – Grupo de Pesquisa em Bioenergia do IEE, lembra que o resultado atual é fruto de um trabalho que começou há muitos anos. “Em 2009 fizemos o Atlas de Bioenergia do Brasil, que atualizamos em 2012. Ali estimávamos o potencial de aproveitamento de biomassa no Brasil por município e por tipo de biomassa. Foi um trabalho que gerou muitos frutos, e o mais importante deles foi a metodologia, que muitos outros estados usaram para fazer seus próprios mapas. Agora, os novos mapas para São Paulo, inéditos, são interativos, além de terem uma abrangência mais ampla, pois trabalhamos com resíduos urbanos, rurais e com o setor sucroalcooleiro, que é o maior potencial de produção de biogás e biometano do Estado.”

Segundo ela, a ferramenta se destina a tomadores de decisão (governos estaduais e municipais), e a empresários interessados em investir no setor. “Quando fizemos o atlas impresso, recebemos muitos pedidos de informação de empresários que queriam investir no setor e não sabiam por onde começar. Acreditamos que essa ferramenta possa ajudar.”

Metodologia e dados – A metodologia utilizada pelo grupo será publicada em um e-book a ser lançado nos próximos meses. Segundo Drª Vanessa Pecora Garcilasso, responsável pela coleta de dados sobre resíduos urbanos, a elaboração da metodologia envolveu, inclusive, uma reunião entre os diversos atores fornecedores de dados.  Ela reitera que o grupo teve muito apoio dos parceiros, sobretudo da Abiogás.

“Fizemos uma reunião com diversos atores envolvidos, da qual participaram Abiogás, EPE, Sabesp, CiBiogás, entre outros. Essa reunião visava calibrar a metodologia. Porque, quando se faz um levantamento como este, cada instituição adota um escopo, um método, um cenário. Assim, tivemos de assumir algumas hipóteses, no tocante à metodologia. E essas hipóteses foram discutidas previamente.” Um exemplo: o grupo trabalhou com a hipótese de que todo o lixo coletado em cada município fosse destinado para aterros sanitários.

De acordo com Drª Marilin Mariano do Santos, responsável pelos dados sobre o setor agrícola e sucroalcooleiro, a metodologia buscou minimizar as incertezas que as hipóteses representam. Ela afirma que é difícil encontrar dados que estejam agrupados da maneira desejada, ou completos o suficiente. “Um exemplo: só se pode considerar resíduos de bovinos no caso de confinamento do gado. Mas os dados sobre bovinos que encontramos não informam se o gado é criado solto ou confinado. Então, assumimos a hipótese de que todos os bovinos passam os três últimos meses de engorda em confinamento. Com o gado leiteiro, a mesma coisa. Trabalhamos com a hipótese de que, se as vacas produzem leite acima de uma certa quantidade, a criação é confinada. Abaixo disso, passam apenas 4 horas por dia confinadas. As hipóteses geram incertezas, mas a metodologia tentou minimizá-las o máximo possível.”

Próximos passos – O grupo está tomando fôlego para os novos avanços. “Estamos realizando simulações com relação à injeção do biometano na rede: por exemplo, qual o impacto na tarifa para os consumidores? O quanto evitaria de emissões de GEEs? Também estamos simulando a substituição de diesel por biometano na indústria sucroalcooleira. Uma tese recente de meu orientando Manuel Poveda estimou os custos de produção de biogás e biometano na região de Sertãozinho (R$ 0,25/m3 de biogás de vinhaça e R$ 0,65 Nm3 de biometano), o que corresponde a valores bastante interessantes. Uma estimativa preliminar é que o setor gaste 1 milhão de dólares por ano com diesel”, afirma a professora Suani. “Isso sem contar os problemas decorrentes da dependência de um só combustível, como se viu com a greve de caminhoneiros. Se o diesel não chega, o que fazer?”, ressalta.

O grupo também está atuando em um projeto de pesquisa e desenvolvimento com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Companhia Energética de São Paulo (Cesp). “O objetivo é elaborar o Atlas de Bioenergia para São Paulo, que não será focado apenas em biogás e biometano, mas também em biomassa sólida: bagaço de cana, resíduo florestal etc. Será elaborado um mapa interativo com os potenciais de geração de eletricidade, que deverá ser lançado no início de 2020”, adianta a professora.

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